Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Na vida da Igreja e dos seus filhos, setembro é o “Mês da Bíblia”, que este ano é dedicdo ao estudo do Livro de Ezequiel, e traz o lema “Porei em vós meu espírito e vivereis” (cf. Ez 37,14). Esse tempo especial é dedicado a Palavra de Deus, que alimenta diariamente a nossa caminhada de fé, de povo de Deus a caminho. A Palavra de Deus é o princípio gerador de todas as coisas. Ela é a expressão do amor infinito do Pai, da sua ternura e misericórdia pelo ser humano, às vezes tão “forte” e resistente diante do projeto de vida de Deus, e, ao mesmo tempo, tão “frágil” diante de seus próprios atos, ou projetos de morte que desenvolve, fazendo uso destorcido dos dons e da inteligência que Deus lhe deu para favorecer a vida e sua dignidade.

A Palavra de Deus, além de ser “a fonte pura e perene da vida espiritual” (DV, 21), é importante que ela seja, “a alma da teologia, da pregação, da pastoral, da catequese e de toda a instrução cristã” (DV, 24). Por isso, devemos ter um contato íntimo e constante com os Livros Sagrados, através da leitura assídua, do estudo e da meditação, “porque desconhecer as Escrituras é desconhecer a Cristo” (São Jerônimo).

Na vocação do profeta Ezequiel, existe um caminho propedêutico de formação para a missão profética, que consiste numa progressiva interiorização, numa relação sempre mais íntima e profunda com a Palavra de Deus. Ezequiel propõe um “itinerário vocacional” de interiorização, que completa e enriquece também a história da vocação dos outros profetas. A vocação de Ezequiel, porém, não nasce unicamente dos questionamentos e conflitos interiores que tocam a sua vida, diante de tudo aquilo que estava acontecendo com o povo de Israel, mas também a partir das interrogações que tocam a vida das pessoas a quem o profeta será enviado. Ele nos ensina a nos colocar em oração, e fortalecer a nossa comunhão com o Senhor, a partir da realidade e dos fatos da vida.

O profeta Ezequiel é um exemplo de como a Palavra de Deus pode ser anunciada somente tomando a sério as perguntas que habitam o coração dos homens e das mulheres, na realidade da vida. Caso contrário, corre-se o risco de levar uma palavra desencarnada e distante, incapaz de tocar a vida. Para ler o Livro de Ezequiel, não podemos deixar de começar pelas perguntas que a deportação do povo de Israel para a Babilônia tinham suscitado na mente e no coração do povo. Ezequiel nos recorda a importância das perguntas, sua superioridade em relação às respostas. Também nós, hoje, poderemos perguntar: quais são as interrogações que estão no coração dos homens e das mulheres do nosso tempo, e que gostariam de ter uma resposta da nossa parte? É talvez um dos desafios mais difíceis, e, ao mesmo tempo, decisivo para que o anúncio da Palavra de Deus possa tocar o coração e orientar a vida do povo de Deus, também na realidade de hoje.

+ Dom José Gislon, OFMCap.
Bispo Diocesano de Caxias do Sul